Passaram-se 11 anos. 11 anos sem uma palavra, sem um telefonema, sem um encontro.
Há cerca de 3 semanas ligaram-nos. Disseram que tu, avô, estavas no hospital e já tinhas pouco tempo de vida. A decisão foi difícil. Afinal porque iríamos visitar alguém que durante 11 anos não quis saber de nós? Alguém que nem num telefone se lembrou de pegar? Mas pronto, para ficarmos bem com a nossa própria consciência, nós fomos. Avisaram-nos que poderias não nos reconhecer, ou até nem nos querer ver, mas nós arriscamos. Queríamos "fechar", ou pelo menos tentar, um capítulo da nossa vida.
Hoje, lá nos dirigimos ao hospital. Começamos a aproximar-nos do quarto número 19. A conversa entre nós, irmãos, já nem surgia. De certa forma, nem sabíamos o que poderíamos ou não encontrar, o que poderíamos ou não esperar daquela espécie de "encontro". Entramos no quarto. Olá avô. Ele ficou a olhar para nós assustado e, simultaneamente, confuso. Afinal, éramos mesmo dois estranhos à primeira vista. Olhou durante um largo espaço de tempo e o olhar dele transmitiu confiança e saudade. Dava para perceber que estava a lembrar-se de nós aos pouquinhos. Lembraste de nós, avô? Não respondia. Avô? Somos nós, os teus netos. Nada, nem uma palavra. De repente, falou e chamou por mim. Lembraste? Custou-lhe bastante a pronunciar a palavra, mas o "sim" lá saiu. De vez em quando voltava a fixar o olhar em nós e a contemplar-nos como se nos estivesse a ver pela primeira vez. Nós estávamos completamente em choque. Nunca tínhamos estado nesta situação e muito menos pensado que íamos estar em frente a uma pessoa que nem nos ia reconhecer. A emoção já estava bem presente na cara dele. Repentinamente, ele esticou a mão e o meu irmão agarrou-a. Os olhares dividiam-se entre as mãos unidas dos dois e as lágrimas agora presentes nas nossas caras. Depois de um tempo com o meu irmão, a mão dele dirigiu-se para mim. Agarrou-me com tanta força. Chegou o médico e pediu para sairmos por uns momentos. Ele não me largava a mão. Agarrava-me com tanta força e não queria largar. O olhar dele interpelava o meu e implorava para que não o deixasse. Tinha medo que nós fôssemos embora e nunca mais voltássemos. Avô? Vamos ali e já vimos. Prometemos. Nós voltamos. Depois de muito esforço, lá me largou.
Regressamos. E connosco voltou uma tia que já não nos via há anos também. Ela chegou e o nosso avô virou a cara para o lado dela e não nos olhava. Ele está a chorar, é por isso que não olha para vocês. Ele estava bastante emocionado, tal como nós que não nos conseguíamos controlar por mais de 2 minutos. Chegou a hora de ir embora. Quando nos estávamos a despedir ouvimos: Do fundo do coração (...), não conseguiu dizer mais nada. As lágrimas percorreram o rosto enrugado dele e os nossos. A vontade de nunca mais o deixar era grande. Dei-lhe um beijo. Pela primeira vez em 11 anos, eu voltei a dar-lhe um beijo. No momento em que os lábios tocaram no rosto dele, as lágrimas libertaram-se dos olhos e a mão agarrou com mais força o meu irmão. Não consegui disfarçar. Chorei tanto, não conseguia controlar. Com o meu irmão foi igual. As emoções estavam à flor da pele e o que em anos desapareceu, numa tarde regressou num turbilhão de sentimentos. Desejei que não fosses nunca embora, desejei que pudéssemos começar tudo de novo outra vez. Mas eu sei, eu sei que mais dia menos dia tu vais partir. E eu vou ficar. E nós vamos ficar.
Acredita que do fundo do coração, eu também te amo.
22 comentários:
Adorei, Maria João! Espero que o teu avô melhore e que possam ver-se mais vezes. Espero, do fundo do meu simples coração.
Obrigada pelo teu comentário: é mesmo, são sempre únicos! :D
está tão lindo, mas tão lindo! vais ver que ele vai melhorar, princesa!
obrigada pelo carinho <3 *
Até me arrepiei. :O Pode ser que corra tudo bem e tudo (re)comece. :)
ps: Falei, mas meia abananada.xD
é mesmo. e ele é tão burro! ahah, coitado... ele é assim mas depois arrepende-se e nem desculpa pede, como tu disseste. tudo poderia dar certo mas ele arma-se em idiota e é no que dá! --'
voltei querida :)
Verdade e este sem dúvida que é um deles *.*
claro, mas não deveria de ser assim! --' que raiva
Obrigado princesa, adoro também o que tu escreves :)
olha eu concordo contigo por um lado, mas discordo por outro.
porque noto que as saudades fazem com que o momento que o vá ver de novo seja tao intenso, tao unico! mas quando nao estou perto dele, as saudades apertam o meu coraçao e dao cabo de mim :(
e simplesmente sempre muito complicado, e custa \:
É mesmo!
gostaste mesmo? :$
es um amor de pessoa :D
Mesmo, quase que caímos em tentação em nos atirar....ou não ahah
nao deixas de ser um amor :D
sim. o nosso presenta constrói-se a partir do passado, sem dúvida.
é ele que nos molda e nos faz ser o que somos no presente.
tal como a mim, irritam-me tanto -.-
É tão bom. :)
está lindo! adorei e vou seguir*
Nem é possível ter certezas de tudo. É aí que está a essência. :)
acredita que é *-*
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