E quando as emoções já se encontram completamente à flor da pele, ainda tenho de te olhar nos olhos e ver-te mais uma vez. Pois é, já não basta afeiçoar-me a quem brevemente vai sair (novamente) da minha vida, ainda tenho de ver a tua cara no vão das escadas. Já não mostras os olhos simpáticos e a boca sorridente a olhar para mim. Já nem abres os braços e o casaco para me agasalhar do frio. Já nem sequer consegues dar-me um beijo sem me fazer parecer uma desconhecida para ti. A única coisa que soubeste dizer foi "olá". Não me abraçaste, não me acarinhaste, fizeste de mim uma pessoa vulgar que passa por ti na rua. A verdade é que nem consegui olhar-te nos olhos. Simplesmente emprestei a cara para que pudesses colar a tua na minha e "cumprimentar-me". Senti a barba do teu rosto a magoar o meu, a frieza que, agora, tomou o lugar do carinho que tinhas por mim. Senti o teu olhar a fugir e a colar na parede, tal como o meu, que tentava encontrar o vazio em algum lado que não a tua cara. Fui fraca, admito. Mas não consegui sequer olhar para ti. Não fui capaz. Eu sabia que ia deixar cair uma lágrima se o fizesse. Estava com os olhos completamente enevoados, mas tu não viste. As palavras que ouvi foram "é assim a vida". Mas nem essas conseguiste pronunciar. Fizeste com que o silêncio se instalasse e a saudade regressasse. Há algum tempo que não sentia aquela amargura no estômago e o nó na garganta que só me fez engolir em seco. Ontem voltei a senti-lo. Ontem voltei a pensar no quanto eu te amava (ou amo, nem sei). Mas tu continuas. 

Tu magoas uma, duas, três, infinitas vezes. 

Parabéns, consegues por-me realmente triste.

"Pai"