segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Já há muito que deixei de escrever para ti. Há muito que a dor se foi e a indiferença a substituiu. Há uns dias atrás disseram-me que uma tia-avó minha, a minha ama, tinha morrido. Sabia que ela estava doente há um ano, com cancro, mas não fui capaz de a ir visitar nem uma só vez. As coisas que as pessoas fazem antes de ficarem doentes e acamadas contaram muito mais para mim do que tudo o resto. A menina pequenina era eu, tinha 6 anos, e também eu sofri e ela simplesmente assistiu de perto, sem se mexer para ajudar. Foi assim. E foi assim que eu me vesti de castanho porque o preto para mim não fazia sentido e fui ao funeral. Fui por respeito, não por dor ou pena, respeito. Era a única coisa que restava. Já não me senti bem em ir à missa de sétimo dia, e não fui. Eu também tenho sentimentos, não é só quem está perto de morrer. Para não variar, o meu "pai" quis marcar presença, uma vez mais para se mostrar e para incomodar os filhos (pelo menos é o que está no papel). O meu coração começou a bater tão forte quando o viu como se não estivesse preparado para mais uma vez. Mais um (re)encontro. Tinha dezenas de lugares para passar, mas teve de roçar em mim e no meu irmão. Continuava com o ar de gozão na cara e eu mantive o olhar. O olhar de desprezo e pena. Desta vez eu levantei a cabeça e olhei para ele de frente à espera que tivesse a coragem de me olhar nos olhos. Não teve. Acobardou-se e direcionou o olhar para o chão. Eu pensei para mim mesma, "mantém-te forte, não precisas dele". E assim foi. Os batimentos abrandaram e consegui encará-lo com desprezo e indiferença. Foi a primeira vez que a presença dele não me incomodou. Foi a primeira vez que ele para mim deixou de ser o super pai. Deixei de ter saudades, Deixei de chorar por amor e raiva simultaneamente. Passou a ser um estranho, um saco cheio de nada. Foi o início da tua derrota. Agora começa a minha vitória. Espero por ti!

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