sábado, 18 de janeiro de 2014

Estávamos na praia, na zona dos gelados, comprávamos gelados para os pequenos. Tu apareceste. Mais uma vez desleixado, mal vestido, com um aspecto de quem não dormia há umas quantas noites seguidas. Como sempre, ignorei-te, segui os teus princípios (aqueles que um dia passaram a ser hábito em ti) e fiz de conta que não te conhecia. A loja dos gelados era grande e o tempo que demoraste a correr para mim foi lento, foi como se estivesses a quilómetros de distância mas eu já te sentisse tão perto. Vinhas com os olhos cheios de água e quando me abraçaste, eu senti os mesmos braços e o mesmo carinho que há uns 13 anos me aconchegava. Senti que eras tu, pai. Eras o mesmo pai que eu tanto desejei. Dos teus olhos não paravam de escorrer lágrimas e da tua boca só se ouvia a palavra "desculpa". Ficamos num abraço prolongado e eu voltei aos meus 6 anos. Durante 10 minutos o meu relógio parou e eu senti aquilo que há muito esperava. Senti amor da tua parte, senti carinho, senti o mimo que já há muito havia esquecido. Chorei de emoção, chorei de alegria. Finalmente tinhas voltado. Acordei. Acordei e vi que tudo não passava de um sonho, ou melhor, um pesadelo. Toquei na minha cara e as lágrimas ainda escorriam. O coração não parava de bater com força e eu pensei mais uma vez, "por favor, pára de me fazer isto! Desaparece de uma vez por todas, ou vem abraçar-me de novo e fica." 

1 comentário:

Mariana Santos disse...

De todos os textos que acabei de ler um beijo para ti. Para o teu coração. Há dores que suportamos que deviam ser proibidas.